Resiliência
Ricardo Martins Ouchi


A palavra resiliência vem da metalurgia e significa a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.
Para nós, nas questões existenciais e psicológicas, pensamos no bambu como uma referência, que diante do sofrimento dobra, por ser flexível, envergando, todavia não quebrando, e voltando ao seu ponto de equilíbrio.
A resiliência é a possibilidade de passarmos por problemas, sofrermos, nos angustiarmos, entendendo que é impossível não sofrer na vida. Viver é angústia, mas é um convite a conseguirmos extrair aprendizado da dor, construindo um novo significado e sentido de vida. Assim podemos nos fortalecer a cada novo desafio que nos evoca novas adaptações e nos instiga ao desenvolvimento e manifestação de novos potenciais. Esta criatividade evocada e manifesta nos transforma e nos possibilita ampliar nossos horizontes, nossas percepções, nossas perspectivas e estratégias de vida, nos permitido abertura a futuras vivências interiores e exteriores mais intensas, ricas, profundas e gratificantes
Não há crescimento sem dor e devemos tolerar a dor como uma árvore tolera a poda.
Vivemos tempos de grandes fantasias, falsa crenças, crenças limitantes onde geralmente acreditamos que pelos resultados da tecnologia o mundo está “em nossas mãos”, que é possível e necessário estar no controle, desta forma sempre gerando em nós e nos outros expetativas exageradas quanto à realidade, esperando da vida a perfeição.
Vivemos preocupados de forma obsessiva e exagerada com nossa imagem, hoje agravada pela competição potencializada pela exposição virtual nas redes sociais. Mantemos contato superficial e virtual com número enorme de pessoas sem percebemos que estamos cada vez mais isolados de nós mesmos e de vínculos reias. Quanto tempo gastamos alimentando nossos “avatares” nas redes sociais.
Precisamos partir do princípio de que sofrer faz parte da vida e é necessário ao nosso desenvolvimento humano.
Sofrer não é uma fatalidade da vida, sofrer é inerente vida e resistir a isto aumentar a dor.
Se tudo fosse perfeito não haveria crescimento e estímulos ao desenvolvimento. Tudo seria “tédio” e a vida ficaria privada da possibilidade de podermos construir sempre, expandindo nossa visão interior e exterior.
Resiliência é talvez a palavra mais importante de todas.
Nunca temos a resiliência suficiente, pois a vida está sempre exigindo mais e mais perante os desafios que sempre surgem: decepções, sofrimento, perdas, traições, rejeições, fracasso, adoecimento, morte etc.
Busquemos ser menos alérgicos ao “não” trazido pelo outro, pela vida, pelas nossas limitações etc. Nos referenciemos na ostra que ao ser invadida pelo pontiagudo grão de areia e sofrendo, foquemos em envolver as espículas do grão de dor, com uma secreção resiliente que posteriormente se transforma em uma pérola preciosa
Assim a inevitável “invasão” da imperfeição do mundo é preciosa semente que sinaliza, antecipa e possibilita a pérola. Fácil não é, nunca foi, nunca será e não é para ser.