Quando medicar o sofrimento psíquico?
Ricardo Martins Ouchi
Normalmente entendemos que sofrer psiquicamente é parte inerente da vida, sendo algo natural e que leva a desenvolvimento e transformação humana.
O problema é quando este sofrimento é intenso e contínuo a ponto de prejudicar a qualidade de vida profissional e das relações interpessoais da pessoa.
“Dificuldade de nadar” todos temos. As correntezas da vida são difíceis e estão sempre mudando e nos desafiando.
Não vamos jogar a “boia” para qualquer dificuldade de nadar, porém não vamos esperar a pessoa se “afogar” para jogar uma “boia”.
Aprender novos estilos de nado é o principal, sendo essencial e principal a psicoterapia, porém a mesma tem resultados, na maioria das vezes, de médio a longo prazo. Em casos que demandam da medicação e que o paciente esteja se “afogando” é menos produtivo “dar aula de natação” (psicoterapia) sem apoio da boia.
Primeiro jogamos a “boia” para a pessoa quimicamente recuperar energias e fôlego. Assim, com este apoio, terá mais escuta e energia para na sequência se beneficiar com o profundo e transformador trabalho de psicoterapia.
Deixando mais claro, casos mais leves de sofrimento psíquico não demandam de medicação. O médico e o psicólogo devem ser treinados em diferenciar e singularizar as situações. Por exemplo, um caso de um paciente com sintomas depressivos/ansiosos não tão intensos, se idoso e acompanhado com muitos problemas clínicos, pode ser necessário medicar pela fragilidade clínica e risco da piora psíquica descompensar a parte clínica.
É importante que, quando “se espanou o parafuso”, que se busque rápido o tratamento psiquiátrico e psicoterápico integrado, pois se a pessoa ficar resistindo ao possível início de tratamento psicofarmacológico, o quadro pode se cronificar, tornando a resposta ao possível tratamento mais difícil e complicada.
Ns áreas do cérebro as quais o paciente está mais “utilizando” e acessando se ampliam as ligações entre os neurônios, ligações estas chamadas de sinapses.
Estas sinapses vão ficando cada vez mais estruturadas, aqui em relação ao sintomas como um automático indesejado que quanto mais prevalente e persistente os sintomas, vão se transformando em um verdadeiro piloto automático disfuncional.
O psicofármaco entra como excelente alternativa para quebrar este ciclo
Permite, principalmente em uso persistente e por tempo necessário, que neuroquimicamente o acesso às estas estruturas que sustentavam os sintomas se enfraqueçam. Assim dá espaço para um novo padrão de pensamentos e emoções se sustentem como um novo automático, mais positivo e resiliente. Com a persistência da psicoterapia, apoiada pela medicação ou medicações adequadas, aumenta a chance de se fixar este novo circuito e se “desfazer” por desuso o velho circuito indesejado e disfuncional. Esta persistência é importante para se evitar recaídas após interrupção de medicação e terapia com curto tempo de melhora.

